Segundo Becker, existem três diferentes formas de
representar a relação ensino/aprendizagem escolar ou, mais especificamente, a
sala de aula, sendo elas o empirismo, o apriorismo e
o construtivismo como mostra o quadro abaixo:
Categorias
|
Modelo Epistemológico
|
EMPIRISMO
|
APRIORISMO
|
CONSTRUTIVISMO
|
Aula
|
Carteiras
enfileiradas
Expositiva
|
Local “de se
fazer o que se quer”
|
Local de
construção e descoberta do novo
|
Disciplina
|
Rígida
Heteronomia
|
Espontaneísmo
(Autoritarismo)
|
Negociam-se
regras de convivência
|
Conteúdo/
Conhecimento
|
Reprodução
Repetição
Estimulação
Aprender
pelos sentidos, que recebem estímulos do meio, e repete para fixar
|
Despertado
Aprendido
por
insight
|
Como se desenvolve agindo e problematizando
sua ação, aprende assimilando conteúdos no prolongamento desse processo.
|
Professor
|
Dono do
saber – transmite o que sabe para o aluno que não sabe
|
É
facilitador que não intervém porque não acredita que isso faz diferença
|
Acredita que o aluno aprende sempre porque é
ativo (e também aprende com o seu aluno)
|
Sujeito
|
Tábula
Rasa/ passivo
Aprende
porque o professor ensina
|
Traz a capacidade de saber a priori/ passivo
|
Desenvolve a capacidade de aprender/ ativo
|
Objeto
|
Determina o
aluno.
|
Não
influencia o aluno.
|
É assimilado pelo sujeito que se transforma
por acomodação
Interação/
construção de conhecimento
|
Equações (S
e O)
|
S←O
|
S→O
|
S↔O
|
FONTE: BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento.
Porto Alegre: ARTMED, 2012.
As
escolas democráticas estão inseridas dentro de uma linha chamada de Pedagogia
Libertária que se caracteriza por abordar a questão pedagógica diante de uma
perspectiva baseada na liberdade e igualdade, eliminando as relações
autoritárias presentes no modelo educacional tradicional.
Uma escola
democrática é uma escola que se baseia em princípios democráticos, em especial
na democracia participativa, dando direitos de participação iguais para
estudantes, professores e funcionários. Esses ambientes de ensino colocam os
alunos como os atores centrais do processo educacional, ao engajar estudantes
em cada aspecto das operações da escola, incluindo aprendizagem, ensino e
liderança. Os adultos participam do processo educacional facilitando as
atividades de acordo com os interesses dos estudantes.
Nesse modelo
de escola, os alunos são responsáveis pela formação e cumprimento de regras a
serem seguidas para um bom funcionamento da escola. São incentivados a buscar o
conhecimento a partir de seu próprio interesse.
Na escola
democrática o professor deixa de ser autoridade ou transmissor do conhecimento
para tornar-se mediador das relações interpessoais e facilitador do
descobrimento.
Segundo
Macedo, existe um equívoco quanto ao papel do professor construtivista e ele
esclarece:
Uma questão muito debatida é sobre a postura do
professor, por exemplo, diante dos conteúdos escolares. Supõem alguns que o
professor construtivista não precisa considerar os conteúdos ou matérias
escolares, tanto quanto o fazem os professores da escola tradicional. Trata-se
de um engano. O professor construtivista deve saber muito a matéria que ensina.
Mas, por uma razão diferente. Antes, tratava-se de saber bem, para transmitir
ou avaliar certo. Agora, trata-se de saber bem para discutir com a criança,
para localizar na história da ciência o ponto correspondente ao seu pensamento,
para fazer perguntas inteligentes, para formular hipóteses, para sistematizar,
quando necessário. O conhecimento científico sobre determinado assunto será
sempre nossa referência principal. Mas, não se trata de saber para impor,
submeter ou induzir uma resposta na criança. Em uma visão não construtivista a
resposta ou mensagem do professor é o que interessa. Em uma visão
construtivista, é a pergunta ou situação problema que ele desencadeia nas
crianças.
A obrigatoriedade
de os alunos frequentarem a escola faz com que a exploração do trabalho
infantil tenha um maior controle, pois existe a lei que obriga a criança estar
na escola. Entende-se que o Poder Público quer formar cidadãos e para isso é
preciso que eles frequentem a instituição, que deve ser o local de socialização
e aprendizagens. A obrigatoriedade garante o direito da criança e
adolescente ter acesso à educação.
Por outro lado, a
obrigatoriedade pode ser vista como uma forma do sistema político continuar no
comando, pois o sistema de ensino é modificado a cada governo e infelizmente a
obrigatoriedade de o aluno frequentar a escola não garante a qualidade do
ensino. O sistema de aprovação automática até o 3º ano é um exemplo, pois, os
pré-requisitos que era exigido em outras épocas aos alunos, acabam sendo
atingindo lá no 5º ano ou nem chegam lá.
Estamos
percorrendo um caminho que nos leva a pensar em mudanças. Muitos professores já
estão tendo outra visão sobre o ensino. Entendem que o aluno é capaz, que em
grupo aprende-se mais, que deve existir a troca de conhecimento, que o
professor aprende enquanto ensina, ou seja, o aluno tem a liberdade de existir,
é ouvido e compreendido. Mas infelizmente, o a atual sistema de ensino,
favorece a formação de semianalfabetos. É claro que não se pode descartar a
culpa daqueles professores que ainda acreditam serem “donos do saber”.
A Escola ainda mantém preservadas
algumas concepções dos séculos passados. Embora exista um líder na sala de
aula, hoje visto como um mediador do conhecimento. Porém, inserido num sistema
político enrijecido e ultrapassado, onde o Estado determina os padrões que
serão aplicados, mantendo instituições de ensino com precariedade, seja em
recursos pedagógicos ou em recursos humanos. Tais limitações implicam na
qualidade de ensino onde muito se fala em mudança, entretanto pouco se faz para
que ocorra efetivamente uma transformação social formando um cidadão crítico e
atuante na sociedade.
Referências:
BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos
epistemológicos. Educação e Realidade,
Porto Alegre, p.89-96, 01 jun. 1994. Semestral. 19(1). Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/260250772/BECKER-Fernando-Modelos-pedagogicos-e-modelos-epistemologicos-2-pdf>.
Acesso em: 22 abr. 2018.
MACEDO, Lino de. O Construtivismo e sua função
educacional. Educação e Realidade,
Porto Alegre, p.25-31, 01 jun. 1993. 18(1). Disponível em: <https://www.ufrgs.br/psicoeduc/piaget/o-construtivismo-e-sua-funcao-educacional/>.
Acesso em: 22 abr. 2018.
TOSTO, Rosanei. Escolas Democráticas Utopias ou
Realidade. Revista Pandora Brasil, ISSN 2175-3318. v. 4. 2011. Disponível em: <http://docplayer.com.br/7270548-Escolas-democraticas-utopia-ou-realidade.html>.
Acesso em: 22 abr.
2018.
VARELA, Julia et al. A Maquinaria Escolar. Teoria & Educação,
São Paulo, n. 6, p.68-96, 1992. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/doc/70553618/Julia-Varela-e-Fernando-Alvarez-Uria-Maquinaria-Escolar-1>.
Acesso em: 22 abr. 2018.